O Diário de Maringá

O Diário de Maringá – PR – jornalista Donizete de Oliveira

Tanto que mexeu e remexeu nas cordas da viola que descobriu um jeito diferente de tocá-las, numa outra levada. “Primeiro gravei uns acordes de violão e depois os mesmos  acordes de trás pra frente na viola”, explica Tião Carreiro.

A informação está no livro da jornalista Rosa Nepomuceno “Música Caipira –  da Roça ao Rodeio”. A cena se passou nos estúdios da Rádio Cultura (AM)de Maringá no fim da década de 50. Os dados se repetem no site do violeiro que morreu em outubro de 1993 e são confirmados pelo locutor aposentado da emissora, Orlando João Manin, 65, o Coronel do Rancho. Ele se recorda de uma salinha nos fundos da Rádio Cultura, onde Tião Carreiro ensaiava com Zorinho – hoje o famoso violonista Itapuã – que fazia dupla com Zézinho. Os arranjos para o primeiro LP de 78 rotações (gravado em 1961), o Rei do Gado, foram feitos na emissora. Com Pardinho, o Rei do Pagode era presença certa no programa “Alegria do Sertão”, apresentado todos o dias das 17 as 20 horas e aos domingos das 13 as 15 – por Coronel do Rancho. Tião Carreiro e Pardinho, Zilo e Zalo, Campanha e Cuiabano, Trio Repentista, Jacó e Jacozinho, Nenete e Dorinho, Caçula e Marinheiro são algumas das duplas que moraram no antigo Hotel Paulistano, que chamavam de “pião”, local  onde os artistas se concentravam para se apresentarem em circos em Maringá e cidades vizinhas.

Cachê

Na época, Rádio Cultura pagava cachê a várias duplas , como Tião Carreiro e Pardinho, que eram artistas exclusivos da emissora. Eles se apresentavam nos programas de auditório – que  reuniam multidões, em circos e programas sertanejos.

Em Minas Gerais, pagode era sinônimo de baile e quando mostrou aquele batidão diferente a Teddy Vieira e Lourival dos Santos (seus compositores preferidos)), lhes perguntaram por que não adotava “pagode” para definir aquele toque, diz o livro de Nepomuceno.

“O Tião chegou com aquele batidão de viola, misturando ritmo do coco com o do calango de roda., um tipo de calango que tem lá na nossa região. Aí fundiu os dois estilos. Botou o violão fazendo a batida do coco, e a viola , a do calango de roda. Isso é que virou o pagode, um dos ritmos mais tradicionais da cultura sertaneja-raiz, do  Sul do Brasil”, acrescenta outro violeiro do norte de Minas, Téo Azevedo.

Quem também conviveu com Tião Carreiro é o animador sertanejo da Rádio Cultura, João Pereira da Silva, 72, que  até hoje apresenta o “Sertão de Ouro”, programa da músicas raízes semelhante ao “Viola , minha Viola”, de Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo.

Componento do trio Caçula do Sertão, depois Trio Sul Oeste, Pereira “emprestou” o som da viola de Tião Carreiro e Pardinho para um jingle que gravou p ara as Casas Jaraguá. “Quem viu Pelé jogar, não vai ver mais nada igual. Assim é com o Rei do Pagode, violeiro único que marcou toda uma geração”, afirma o animador.

Algodão

Outro que apresentou muitos show de Tião Carreiro e Pardinho é o radialista Rogério Rico, 48  , da Rádio Cultura. Na época, eles inauguraram várias algodoeiras na região, como uma em São João do Ivaí, em 1981. O convite era de Paulo Lopes, considerado o Rei do Algodão.

Segundo Rico, o ritmo que Tião Carreiro e Zorinho criaram nos estúdios da Rádio Cultura se transformou em letras famosas, como “Pagode em Brasília”, de Teddy Vieira e Lourival dos Santos. Ele e Pardinho tinham verdadeira paixão por nossa região, adoravam aquele cafezal alto que refletia a riqueza do Paraná”, frisa.