Ele parece um Deus. Um deus de cara amarrada, calado, sizudo. Mas seus fiéis o rodeiam e não se cansam de lhe tecer louvores. Ele parece nem ligar para tudo o que falam …de repente chega a hora de abençoar os presentes: é quando ele pega a viola…. ai a gente entende por que ele é tão idolatrado.
O brasileiro, assim como os povos antigos, é mesmo politeísta.Cultua deuses os mais variados. E, se existe um deus da viola, ele se chama Tião Carreiro. Os fiéis se multiplicam pelo Brasil afora. E se alguém pensa que é só entre as pessoas de mais idade, basta ir a algum dos “templos”onde este deus é cultuado, para se descobrir garotos adolescentes embevecidos diante do som da viola de Tião Carreiro.
Um desses te,´çps foca e, Barretps. Ma `raã Santa Helena. Qalquer um, naquela cidade, conhece a residência de “Rose” Abrão, também chamada “Casa do Violeiro”. Ali, em torno da mesa farta e do freezer repleto de cervejas, os fiéis assistem a um verdadeiro milagre, que os fãs de Tião Carreiro nunca viram em shows: Tião sorri, conta histórias, tira sarro dos presentes e canta, canta, canta sem se cansar, madrugada afora.
Numa das pausas (sob os olhares fulminantes de todos) o repórter de MODA & VIOLA
chama Tião de lado e aproveita para realizar a entrevista tantas vezes programada e adiada.
Tião Carreiro, conta que é mineiro de Monte Azul e descobriu a viola em 1.948, em Valparaíso. Seus ídolos, na época, eram Raul Torres e Florêncio. “ Um dia num circo , fui ver um show de Tonico e Tinoco. Ai peguei a viola do Tinoco e decoreia a afinação. Tinha eu 16 ou 17 anos.” O Rei da 2ª voz – Eu fazia a 1ª , mas aí a voz foi engrossando e acabei fazendo a 2ª . A explicação simplista , vindo daquele que é considerado a melhor 2ª voz da história da música sertaneja. De tudo por pura intuição, sem escola de canto, sem orientação de ninguém. “Eu abro a boca e a voz sai, sei lá, dá certo.”
A história de Tião Carreiro é a própria história dos últimos 40 anos da música sertaneja.