O Ponteado de Tião Carreiro

Araçatuba tem apresentações em homenagem ao cantor

Ícone da música de raiz, que influenciou centenas de duplas com o seu estilo, o cantor e compositor José Dias Nunes, popularmente conhecido como Tião Carreiro, tem, neste mês, sua memória
preservada numa ação da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba e pelo Sesc de Birigui. Até o dia 31, apresentações, painéis e shows relembrarão a carreira dele.

Os eventos ocorrem durante todo o mês e contemplam, principalmente, as escolas da rede municipal. Fundador do “pagode”, ritmo que ousou em criar com base na viola e no seu ponteado, Tião trazia, em suas músicas, o cotidiano da vida e o trabalho caipira. Algumas de suas canções homenageavam personalidades e cidades da região, como Andradina, na musica “Rei do gado”, e Araçatuba, em “Filho de Araçatuba” e “Oswaldo Cintra”.

Na internet, o cantor conta com página oficial, que traz o resgate de sua história, os LPs gravados e diversos registros de imagens do cantor e suas duplas. Admiradores também produzem uma série de sites e paginas em homenagem ao compositor de sangue mineiro e alma paulista.

HISTÓRIA 
Natural de Monte Azul, norte de Minas Gerais, Tião Carreiro nasceu em 13 de dezembro de 1934. Apesar de nunca ter ido à escola, mas determinado a aprender a ler e escrever, alfabetizou-se sozinho por meio da leitura de jornais antigos. Já em Araçatuba, em 1953, o cantor conheceu sua esposa, Nair Avanço Dias.

Na cidade de Pirajuí (SP), José Dias conheceu Pardinho, seu principal companheiro, no circo Rapa Rapa. Pardinho, que era ajudante braçal e cantava nas horas de folga, passaram a cantar juntos com os nomes de “Zé Mineiro e Pardinho”. Em São Paulo, conheceram o compositor Teddy Vieira, então diretor sertanejo da RCA Victor, gravadora icônica da época. Foi nessa época que Teddy Vieira batizou Zé Mineiro de Tião Carreiro, nome que levou tempo a ser aceito por ele.

Durante sua trajetória, Tião teve alguns nomes artísticos como Zezinho (Zezinho e Lenço Verde), Palmeirinha (Palmeirinha e Coqueirinho/Palmeirinha e Tietezinho), Lenço Branco (Lenço Branco e Lenço Preto) e Zé Mineiro (Zé Mineiro e Pardinho), primeiro nome da dupla com o Pardinho.

LEGADO
Em 1959, numa apresentação na rádio Cultura, de Maringá (PR), Tião Carreiro começou a bater com sua viola e conseguiu fazer junção de seu instrumento com o violão do parceiro Zorinho numa mesma gravação, dando início ao “pagode de viola”. Ao levar a gravação até São Paulo, Tião ouviu de Lourival dos Santos e Teddy Viera que aquilo “parece um pagode” — em Minas, pagode era baile.

Em março de 1959, nascia um novo ritmo, o pagode de viola. Tião percebeu que, naquele recortado mineiro gravado e misturado com outras batidas, a viola assumia papel importante e que ele havia encontrado algo realmente novo. Zorinho, um parceiro da época, colaborou no violão.

O cantor tornou-se “o rei do pagode”, não apenas por ter criado o ritmo, mas por ter imortalizado o estilo em seus inúmeros solos, introduções e canções.

FÃS
A voz que marcou a música de raiz calou a batida de sua viola em 15 de outubro de 1993, quando, aos 58 anos, por complicações da diabetes, morreu, deixando, além de seu trabalho, a inspiração para que outras duplas se espelhem em seu trabalho. Um dos nomes do gênero que preservam a tradição do cantor é o músico Albenir Almeida do Nascimento, popularmente conhecido como Du Viola.

“Eu dou aulas de viola e música ao estilo Tião Carreiro desde 1993. Já formei bastante gente de Araçatuba voltada a esse estilo”, enfatiza o cantor e compositor, que, em apresentações, sempre traz clássicos do repertório do mineiro precursor do pagode de viola.

“Acompanhei apresentações dele num circo próximo à minha casa, quando eu tinha uns sete anos”, conta o violeiro, que também ajudou a fundar e administrar o Museu Tião Carreiro, em Araçatuba, mas “por problemas políticos” acabou não seguindo. Du Viola mantém, ainda hoje, contato com os familiares do cantor e segue firme apresentando o estilo do violeiro por onde passa.

APRESENTAÇÕES
Na grande de apresentações do mês em homenagem ao violeiro, o Sesc traz ao palco da Praça João Pessoa shows do grupo de Catira da Secretaria Municipal de Cultura e da violeira Carol Viola e da dupla Rodrigues Viola & Henrique. As apresentações serão realizadas no dia 27 e começam a partir das 19h, com entrada gratuita.